O recado de Aécio Neves

Aécio Neves inaugurou semana passada a maior obra de seus oito anos de Governo em Minas Gerais: a Cidade Administrativa, um complexo faraônico de prédios que abrigará todo o governo do Estado em um só local. Mas engana-se quem acha que tal projeto serve apenas para otimizar os serviços do Governo, melhorar a coordenação das diversas Secretarias, diminuir despesas com aluguel, telefone, luz e etc. Há muito mais por trás dessa “Disneylândia” encravada na Região Metropolitana de Belo Horizonte do que qualquer mineiro possa imaginar.

A Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves foi totalmente planejada para melhorar a gestão pública no Estado de Minas Gerais (ou pelo menos tentar), isso todos sabemos. O que pouca gente imaginava é que o projeto seria usado por Aécio para mostrar ao Brasil que ele está totalmente pronto a assumir a Presidência do país. Mas o que um conjunto de prédios enormes e que custaram 1,2 bilhões de reais pode significar para Aécio e para seus planos em alcançar o cargo máximo do Executivo Nacional, repetindo o feito de seu avô?

Muitas, mas muitas coisas. Aécio mostrou ao Brasil que é um Governador empreendedor: segundo ele próprio, economizou recursos e construiu em pouco tempo uma Sede de Governo que pretende dar um novo patamar à gestão pública do Estado. Como Juscelino construiu Brasília para ser o novo centro administrativo do país, Aécio seguiu os passos de seu conterrâneo mineiro e construiu um centro administrativo para seu Estado, fazendo de Minas Gerais seu verdadeiro país: "Minas é minha causa, minha casa, meu chão. Minas é minha pátria", exclamou Aécio na inauguração da Cidade Administrativa. Como político que faz o dever de casa, não disse isso no improviso, mas premeditou cada palavra de seu discurso na inauguração, assim como premeditou cada tijolo de seu centro administrativo, arquitetando em sua imaginação uma ponte de ligação para o Palácio do Planalto. Não por acaso convidou Oscar Niemayer, o projetista de todos os prédios públicos de Brasília, para assinar o projeto arquitetônico da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves.

A simbologia por trás da inauguração do Centro Administrativo não pára por aí: além de ter o nome de um dos mais importantes políticos mineiros, sua inauguração foi feita justamente no dia do centenário de Tancredo. E isso significa muita coisa. Aécio não quis apenas homenagear seu avô, que não poderia ver a homenagem. Aécio escolheu a data para lembrar para todo país que Minas Gerais é berço dos mais importantes governantes de nosso país, e por isso também fez questão de citar todos os outros Presidentes da República nascidos no Estado. Aécio mostrou ao Brasil que suas origens são as mesmas de grandes líderes nacionais, resgatou toda “mineiridade” por trás desses políticos e de seu avô, um homem que entrou para a história do país por sua capacidade conciliadora em um momento de transição e instabilidade política no Brasil.

Aécio quis mostrar a todos que, assim como seu avô e todos outros mineiros que governaram o Brasil, ele é também um conciliador, como bom mineiro que é. Nada foi por um acaso nisso tudo. Fez questão de chamar diversas autoridades nacionais para a inauguração, mostrando que tem prestígio entre os mais diversos segmentos e que dialoga com todos eles. Representando o Governo estava José Alencar. Dezenas e dezenas de deputados estaduais e federais, dos mais diversos partidos, também estavam por lá. Até o Ministro do STF Gilmar Mendes resolveu dar as caras. Mas talvez a maior demonstração de que Aécio pensou em exatamente tudo foi a presença de José Serra no evento. Serra assistiu tudo, e não discursou. Entrou mudo, saiu calado. Foi obrigado a ver o seu companheiro partidário e principal ameaça dentro do PSDB ser exaltado pelos presentes. Gritos de “AÉCIO PRESIDENTE!” ecoavam na multidão. Aécio foi o protagonista, Serra um mero coadjuvante. E acreditem, foi TUDO premeditado. Aécio Neves é mineiro, e já dizia o poeta: “ Ser mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer, é fingir que não sabe aquilo que sabe, é falar pouco e escutar muito, é passar por bobo e ser inteligente, é vender queijos e possuir bancos...”

Aécio deixou de maneira peculiar o seu recado para os mineiros, para os filiados e direção do PSDB, para José Serra e para o resto do Brasil. Não falou escancaradamente, mas deixou claro que quer e não vai desistir de ser Presidente do país. Planejou tudo para jogar na cara do PSDB e de Serra que ele ainda quer ser Presidente, e pode ser Presidente. Bateu em Serra, bateu no PSDB, mas do jeito mineiro. Disse, mas não disse. Falou, mas não falou. Deixou que a inauguração de sua Cidade Administrativa mostrasse tudo isso. E, pelo que parece, todos entenderam o recado.