Movimento Estudantil?

Chego na faculdade, e ali no fim do corredor tem alguém panfletando e parando a todos, com uma oratória apelativa digna de qualquer mestre da arte do convencimento. Das duas uma: ou é alguém do Banco Real querendo que você abra uma conta universitária ou é alguém do movimento estudantil matando aula para tentar chamar a sua atenção para alguma causa mirabolante que geralmente você não está nem um pouco interessado. No segundo caso, sabemos que estão ali para fazer política, representando os interesses sabe-se lá de quem.

Aliás, todos nós, não-calouros, sabemos sim a quem representam: estão ali para representar os partidos aos quais são filiados, suas bandeiras, suas cores. Raramente estão ali para te representar, caro estudante. Diante do inevitável desencantamento com o movimento estudantil, tais militantes se surpreendem com a descrença e a “apatia” dos demais a respeito desses assuntos: “Como assim você não liga para o movimento estudantil? É por isso que a luta está cada dia mais difícil"!

Não, caro colega do movimento estudantil. A luta está difícil graças a vocês do próprio movimento estudantil, que representam apenas à si mesmos, e à seus interesses. Vejamos se vocês representam o corpo social de estudantes: o índice de comparecimento às urnas para eleições de um DCE, por exemplo, passa de 20% dos alunos de sua faculdade? Raramente...ou seja, gestões são eleitas sem que 80% dos alunos se façam representados.

Aí você meu amigo do movimento estudantil vai argumentar: “Não votaram porque não quiseram.” Não meu caro amigo, não votamos pois não há ninguém entre as chapas que nos represente, não votamos pois não vemos vocês como representantes de nós alunos. A órbita dos companheiros de movimento estudantil parece ser diferente do restante dos alunos. Parecem estar em outro planeta, em outra sintonia. Meu amigo, sinceramente o estudante não está interessado em discutir na faculdade se o fato de Zelaya estar abrigado na Embaixada Brasileira é certo ou não, se o Governo vai usar o pré-sal para comprar disco voador ou se o ACM Neto é um neto da puta!

Caros colegas, estamos cansados desse mesmo blábláblá, desse discurso pronto e maquiado. O estudante quer saber de assuntos referentes aos estudantes! Será que é difícil entender isso? Não que tais assuntos não sejam relevantes, claro que são. Mas jamais devem ser colocados à frente de assuntos que dizem respeito ao ensino dentro da faculdade, à pesquisa, à extensão, à assistência estudantil, ao entretenimento, enfim, a todos assuntos que envolvem diretamente o corpo discente o qual teoricamente vocês deveriam representar.

“Mas o movimento estudantil deve ser levado sim para além dos muros da universidade, não deve ficar restrito só no âmbito universitário”...Opa, espera aí! Repito, não se trata de não querer discutir a realidade lá fora, longe disso...se trata de não querer discutir APENAS o que acontece lá fora, muito simples. Estamos cansados de chapas fazendo campanha em época de eleições propondo ações e debates voltados aos estudantes, mas ao assumir a gestão, se esquecer daquilo que realmente propuseram, e se afastar daqueles que deveriam representar.
Outro fato que devo esclarecer: não se trata de ser contra a filiação à partido político. Não, ninguém questiona a importância dos partidos políticos aqui. Trata-se apenas de repudiar que as entidades de representação dos estudantes sejam utilizadas em prol de partido X, Y ou Z. Eu mesmo conheço pessoas que pertencem à partidos, fazem parte do movimento estudantil e nunca misturaram as coisas. Infelizmente essas pessoas são minoria, mas pelo menos elas AINDA existem, o que pode ser um sinal de que nem tudo está perdido.

Poderia gastar mais dezenas de linhas para citar os estudantes profissionais, os futuros candidatos, o fato de quererem acumular CAS, DAS e DCEs, sem ao menos darem conta da demanda de um só deles...mas creio que tais considerações possam ser feitas em uma outra oportunidade. Ao pessoal que milita em movimento estudantil, creio que muita gente pensa como eu, afinal, não tirei essas considerações do nada, mas em conversas e troca de idéias com estudantes da minha e de outras faculdades (inclusive faculdades de outras cidades e estados). E um fato é consenso: QUEREMOS UM MOVIMENTO ESTUDANTIL QUE REPRESENTE OS PRÓPRIOS ESTUDANTES!